quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Devaneios e São Sebastião.


“Mix de vamp e narciso, cabra arretado e arremetido para morrer, o “patrono de soldados, homossexuais e pessoas que sofrem de pestes” serve de emblema para uma batalha de rebeldia, censura e fé sublinhada por um mito que chegou ao século 20 demarcando a curva “entre a secularização do sagrado e a elevação do profano em sagrado” (Joachim Heusinger von Waldegg).”
[...]
“Nesse contexto, não seria estranho lembrar o juízo de Oscar Wilde: “Não há uma incongruência real entre crime e cultura”. Mas aí já estaríamos à beira de trilhar caminhos que teriam por guias Baudelaire, Poe e outros arautos romântico-satânicos, e que, embora tributários do culto a Sebastião, desviariam-nos das sendas e clareiras que o santo evoca originalmente.
E, para tanto, lembremos uma assertiva do dr. Gachet, o médico de Van Gogh: “A frase ‘amor à arte’ não é certa; deveria ser fé, fé na morte do mártir”. À qual a definição-exortação do poeta Rainer Maria Rilke (“St. Sebastian”) vem fazer coro, contundente e sumário: “O artista se distingue do diletante pela dor que sofre. Sofrer exalta. Bata e continua batendo. A ferida vai frutificar”.”

Os trechos supracitados são do texto “Os mil martírios de São Sebastião” Por Carlos Adriano. Leitura completa recomendada aqui.

“As imagens em marfim, do séc. XVII, cheias de força primitiva, representam São Sebastião quase a dançar como khrisna, deus da dança. As flechas o remetem a Shiva, que também teria morrido flechado segundo a tradição hindu.

Sendo São Sebastião o patrono da Cidade do Rio de Janeiro, foi nessa cidade sincretizado pelos missionários como Oxossi, Rei da Nação Ketu, origem dos candomblés mais ortodoxos do Brasil.

Oxossi, um caçador yorubá, tornou-se Rei de Ketu (Alaketu), após matar com uma única flecha, um enorme pássaro negro que concentrava nessa forma, o poder ancestral feminino, um poder maléfico que dominava toda a cidade, após ter se apoderado do Palácio Real.

É por isso, que tanto como no Rio de Janeiro quanto em qualquer lugar do Brasil, quando os atabaques começam o toque de Oxossi nos candomblés Nagô, todos os presentes tocam o chão (terra) com a ponta dos dedos e o levam à cabeça em referência ao primeiro ancestral.”




Daniel me passou o primeiro link e o cérebro começou a ferver. Talvez ferver não seja a expressão mais apropriada e sim, coçar.
Na adolescência costumava me revoltar e ter um tom mais agressivo, algo que acreditava ser a melodia certa do discurso revolucionário. Com o desaparecimento das espinhas e outras transformações não só hormonais, a primeira reação é o engraçamento. Sei bem que este é o fruto de certa dose cotidiana de ironia...
O andar da carruagem não me leva a concluir se é melhor a revolta ou a ironia. Só uma constatação momentânea.
Tornei-me uma pessoa anestesiada ou só uma mulher com bom humor na medida do possível? Talvez e talvez. Igualmente não é este o rumo da conversa.

Engraçado como um mártir católico é reconhecido como um patrono dos homossexuais. Não é uma visão preconceituosa, longe disto, quase um trunfo frente ao poder católico que restringiu muito da diversidade que até sua exaltação no mundo, era tão natural.
 Será que a igreja católica reconhece oficialmente um mártir homossexual? Ou um homossexual não pode ser santo? Desde quando a opção sexual define se uma pessoa boa ou não. Ou melhor, a santidade ou o ato de ser consagrado a Deus só é digno aos bons? Alguém precisa fazer o trabalho sujo, assim sendo, não merece o céu. Advogados, digam adeus!
Consagrado a Deus. Que Deus? Existo um? Vários? E a dualidade do masculino e o feminino? Do bem e do mal?
Uma pergunta me leva a outra e o que mais me excita é a diversidade das respostas.
A fé em algo sagrado circula pelas mais variadas religiões, exemplos não faltam nos cultos afro-brasileiros ou até na crença católica. Vários símbolos e imagens contextualizadas. Mudam-se os nomes, porém a crença está presente.
Mais uma vez, a importância do ritual na vida, qualquer vida.
Seja ela colorida na mais variada matiz de cores.
E nunca antes na história deste país, acreditei tanto que quanto mais cores, melhor.
Impossível passar novamente pela Igreja de São Sebastião Mártir de Venâncio Aires sem dar uma piscadela pro Bastião. Firme e forte no mais alto cargo da fé, patrono e dono da maior festa da cidade.
Outros olhares
e
 ao deus-dará.

4 comentários:

  1. Cara que texto!
    Mas só a segunda parte ;)
    .
    .
    .
    Para mim, todas as rezas e crenças, sejam elas A ou B, ou mesmo x ou y, vão para o mesmo lugar. E sabe-se lá que lugar é esse, mas CREIO que vai. Entropia, talvez.

    Diversão! ::)

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  2. aqui no trampo a pessoa que comentou, só comentou tipo "olha, vcs sabiam que tem textos que fazem uma referência há uma possível homossexualidade..", foi detonada pelos colegas !!

    "nossa! pq tu é assim?? aiii. não fala uma coisa dessas!coitado!"

    santa ignorância! santa ignorância dupla! ninguém leu o texto, e outra, precisa ter pena dos gays??

    eu tb acho que todas crenças levam para o mesmo lugar. mas o bláblá cristão é de raxar. qualquer questionamento abala as estruturas.

    o que me preocupa com o papo que tudo é para o nosso bem,pelo bem maior,salvação, brasilites no céu e tal, é que isso seria tipo os fins justificam os meios!

    e era isso! e to com fome!

    DaniS

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  3. Bem-aventurados os que assumem a si próprios porque deles pode até não ser o reino dos céus, mas que seja deles o respeito nessa terra de preconceitos.

    O mundo não é bão, Bastião, protegei-nos e livrai-nos do mal.

    Amém.

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  4. Como canta o Nando, "o mundo é bão Sebastião"...Também soube de uns comentários sobre a sexualidade do santo, e achei estranha essa história pelo fato de ser um SANTO e da IGREJA CATÓLICA ainda por cima,(imagina, nunca, pensei) não levei muito a sério o papo, lendas também rondam essa história...por fim, será que um mundo tão cheio de preconceitos realmente é "bão Sebastião"?

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Como assim?