domingo, 8 de março de 2009



As horas dos meus dias nunca passam de forma retilínea, creio que seja uma visão totalmente egocentrista e com qualquer distúrbio ou percepção neurológica alterada, mas enfim, vamos aos fatos. E não se esqueçam: as testemunhas são as prostitutas das provas.
E não cobrei baratinho.

Sou observadora, detalhista e pra variar estou “administrando” uma construção do outro lado do escritório. Cada tijolo é observado com extrema atenção. Os pedreiros devem achar que sou louca ou que estou apaixonada por eles, mas fazer o quê?

Voltando...

Estava eu, exercendo meu ofício, conversando com um cliente por telefone e observando deliberadamente a construção. Fiscal de obra mexerica...

Percebi que um pedreiro estava se debruçando em cima de um arbusto ou arrumando algo atrás dele, porque ninguém se abraça numa planta, a não ser que faça sexo com ela. Pois é...

Depois resmungou algo olhando para o céu, deu uns pulos, incorporou um caboclo velho e deu uma ponta no chão. Nestas horas, já estava mandando três beijinhos pro cliente e desligando. Corri para porta da frente, um empregado atravessou a rua e foi perguntar se ele estava passando mal. Enquanto isso, vejo o outro pedreiro jogar baldes de água no senhor que tinha caído no chão, desacordado.

Para minha surpresa, quando perguntado sobre se precisava chamar o hospital ou se já tinham chamado, o tiozinho disse:
- é... Se quiserem... “Mas acho que não precisa não.”

Liguei para o hospital, tremendo como vara fina e a atendente disse q era pra ligar pro 193.
OK..ok..
Rita sua anta... Óbvio que era emergência, mas o cérebro nestas horas faz coisas estúpidas... Liguei e desandei a falar para vir para rua tal, número tal, urgente, que tinha um senhor desacordado, que tinha sofrido algum ataque que não sabia o que era. O Bombeiro estava meio atordoado, sei lá se com sono (era a primeira hora da tarde), tédio ou tom de voz mesmo, mas me irritei. Disse que estavam a caminho.

Nisto já estava gritando pro outro lado da rua para ninguém mexer no senhor que continuava descordado. Daí o telefone toca e é o Bombeiro com voz estranha:

- Alô... Aí que chamaram a emergência?
- Sim, sim...tem um cara desacordado..blá blá blá..[Parecia uma louca varrida gritando]
- Ummm...e ainda precisa atendimento? Ele já não está melhor?

Breve pausa!?

WTF!!!!

Se chamei a emergência é porque não sei o que tenho que fazer sozinha...o cara poderia estar morto, então, nem precisaria chamar os Bombeiros, chamava a Polícia pra recolher o presunto.

- Sim, sim... ”Ele está meio que acordando”, mas está no chão ainda, não consegue levantar... não sei se é infarto...epilepsia... corre pra cá..

- Uhmm.. sim..

- Alô...

- tu tu tu tu tu tu..


Atravessei a rua com uma colega e gritávamos com os outros pedreiros:

- Não mexe nele, deixa como ele está...

E o pedreiro mais falante:

-É... O médico tirou o Gardenal dele. ..disse que não precisava mais..mas ele tem estes “ataques piléticos de vez enquando.”

PQP!

Os Bombeiros chegaram um minuto depois, queriam levar o senhor que já estava acordado, mas parecia drogado, com a língua sangrando, de certo se mordeu quando caiu ou no ataque e com a cabeça e braços ralados da queda... Não sei descrever o que senti nesta hora.
Compaixão daquele pobre criatura que provavelmente não queria ir pro hospital pra não perder a vaga na construção ou todos os problemas que já deveria ter tido na vida por sua condição mal diagnosticada, falta de cuidados... Sei lá... E o alívio de ver aqueles Bombeiros cuidando dele...


Tinha passado a quinta-feira inteira com enxaqueca crônica, voltou justamente na hora deste fudunço todo. Quando vi a ambulância indo embora e fiz o sinal de positivo para o Bombeiro...queria mais é gritar:

- Para, tchê!!!!..Me leva junto também...me interna no hospital que não agüento mais!!!!!!!!!!

Depois que a adrenalina baixou e contando para os curiosos de plantão que tinha acontecido me lembrei de uma reportagem com um representante do SAMU dizendo como recebem trote de pessoas que acabam deslocando os cuidados médicos do lugar necessário, etc, etc, etc...

Que horror viver em um mundo que o uso de um serviço vital como este precisa passar por uma verificação de trote.

Amanhã preciso perguntar como o pedreiro está e aproveitar para ver se semana que vem já conseguem passar o reboco nas paredes.

2 comentários:

  1. Ai, Rita, você não sabe como me dá um negócio ruim só de ler essas coisas.Imagina estando lá. O cara não querendo ir pro hospital pra não perder a vaga...

    Dá vontade de ter muitos dinheiros e ajudar todo mundo.

    beijas, linda.

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  2. Nossa, gostei do relato. Deu até pânico aqui. Mas ainda bem que o senhor melhorou e no final deu tudo certo.

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Como assim?