sexta-feira, 16 de abril de 2010

Anita


Uma conclusão.
Não resumia nem encerrava o assunto. Só confortava.
A vontade de ler a próxima página, do próximo beijo e de acordar no próximo dia refletiam sua enorme curiosidade.
Talvez, a curiosidade mova todos os seres. Mas, Anita desconhecia outros como ela.
Semana passada, a protagonista desta história voltou da faculdade no transporte costumeiro, no busão dos estudantes.
Ao descer uma avenida, no momento de entrar na rua lateral, ela avistou pela janela um rapaz correndo na direção contrária ao percurso do ônibus. O rapaz, que aparentava ter uns 20 anos, parecia em situação suspeita.  Rapaz que a partir de agora ganha o pseudônimo “Sujeito A”,
O ônibus entrou na rua lateral e deixou-a na próxima esquina. Onze e pouca da noite e a cidade já começava a falecer. Depois de alguns passos, ao atravessar a rua, percebeu que um guri (sujeito B), com aproximadamente a mesma idade de A, estava no meio da rua procurando algo. Passou um motoqueiro (sujeito C) que também parecia estar procurando um sei lá o quê.
Ficou evidente que estavam buscando a mesma coisa.
Neste momento, o instinto mixuruca de detetive por correspondência da Anita concluiu que B e C estavam ligados ao fato do sujeito A estar correndo na outra rua.
Uma pessoa normal passaria por aquela cena com cara de paisagem ou no máximo espicharia os olhos e voltaria para seu mundo.
Bingo!
Ela não conseguiu fazer isto.
Toda sua curiosidade formou um Kamehameha e, aliado ao espírito fajuto de xerife, perguntou:
“Tá procurando alguém?”
No que o sujeito B olhou com cara de nada e disse: “Não. Por quê?”
Pausa.
Anita chegou noutra conclusão. Deveria ter dito: “Por nada. Boa-noite, tchau.”
Contudo, falou:
“É que vi um guri subindo a outra rua correndo e...”
Anita saiu resmungando, pedindo desculpas, terminando a conversa por conta própria. Remendos que não ajudam depois do fiasco.
Neste momento, o sujeito C, parou a moto na frente do sujeito B e este disse:
“Ele foi por ali.”
E mais algumas coisas inaudíveis, pois, os dois seguiram de moto na direção do sujeito A.
Preciosa pista de Anita.
Ela continuou por mais alguns segundos, caminhando e olhando para trás, com a maior cara de idiota. Cara que nenhum livro de correspondências do curso “Detetive particular” havia mencionado.
Seguiu pensando no encontro entre A, B e C.
Em casa, continuou pensando e deduziu:
Tinha acabado de ajudar as pessoas erradas. Sim, pois vítimas são boazinhas, agradecem informações, perguntam mais detalhes de um suposto autor de um furto ou qualquer crime.
Sentiu vontade de voltar ao local, colher notícias do pobre sujeito A.
Deve ter levado uns socos. Ou agredido até a morte. Tiros?
Sentiu-se culpada, 49 segundos depois, ferrou no sono.
No meio da manhã, lembrou dos fatos da noite passada e folhou o jornal, direto no caderno policial. Acompanhou os noticiários da TV mais alguns dias e nada.
A curiosidade alimentou outras versões, até que Anita considerou tudo bobagem.
Não aconteceu nada de mais e os sujeitos nem se encontraram.
Ou não.
Anita continuou se metendo em confusão, algumas até bem engraçadas e contesta que a curiosidade matou o gato.
Agora...
Se matou mesmo, mostra o defunto que ela deseja ver.

2 comentários:

  1. Isso daria um bom início de filme do Alejandro Iñárritu e Anita seria a culpada pelo início de um efeito borboleta.

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  2. Kamehamehaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!

    Os caras fizeram um serviço bem feito. Esconderam bem o corpo e sumiram do mapa sem deixar vestígios... Até que um belo dia o sujeio B se lembra de uma guria que conversou com ele na dita noite, "uma prova viva", pensa ele. E então ele tira do fundo falso de uma gaveta uma 38... BANG. Atras de você...

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Como assim?