quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Política nossa de cada dia.



"Políticos gostam de palanque. Lá só eles falam sem ouvir ninguém. Políticos estão longe de perceber a sagacidade da molecada digital. Estou falando de meninos como Leandro, 17, morador da periferia carioca, que gravou toda conversa que teve com o presidente Lula e o governador Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, durante um evento de campanha a favor desse último na cidade maravilhosa.

O menino reclama que não pode usar as novas quadras de tênis do complexo esportivo, que vivem fechadas.

Lula, com a delicadeza de um mico numa loja de louças inicia o jogo: "Tênis é esporte da burguesia, porra! Por que você não pratica natação?"

Menino: "É que a piscina não abre para a população."

Lula (para Sérgio Cabral e os cupinchas ao redor): "O dia que a imprensa vier aí pegar essa porra fechada, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guarda (sic) aqui... Coloca um bombeiro pra tomar conta!"

Menino: "Eu moro numa Faixa de Gaza, acordo todo dia com o caveirão na minha porta."

Sérgio Cabral, uma flor de pessoa, interrompe o menino de forma democrática: "Deixa de ser otário, rapaz, discurso de otário"

O sol está quente, Lula com sorriso amarelo, percebe finalmente que o menino grava a cena e enfia o rabo entre as pernas. O governador carioca, postura de garotão do funk mas com pança evidente fora do esquadro, continua exaltado. Encerra a conversa com um conselho perolar: "Tu não me engana não. Bota esse inteligência para estudar, ô sacana!"

Bingo! Este é o problema do Leandro: ao invés de ficar estudando calado, como quer o governador, colocou a inteligência para questionar!

Triste demais ver o Lula em final de mandato mostrando a mesma cabeça oca de sempre. Preconceituosa com um moleque que viu no tênis, um esporte possível justamente por eventuais avanços sociais do próprio governo do ex-metalúrgico, que o desencoraja de adotar como esporte por ser "da burguesia". Ai, que preguiça...

Ok, sei que é uma conversa coloquial, descompromissada, debaixo do sol quente durante a campanha eleitoral que mal se inicia. É um fato menor. Não vai, nem deve, derrubar ninguém. Mas serve para nos confirmar com todas as letras e imagens um sentimento que temos guardados no peito. A política de "coroné" continua a pleno vapor no Brasil. Lula e Cabral interpretam com grande eloquência, mesmo que por alguns minutos, personagens infelizmente ainda muito vivos no Patropi: os dos velhos políticos brasileiros, gentinha rude que só sabe fazer discurso e que vira bicho diante do mínimo sinal de inteligência do outro lado. Se depender deles, Leandro não deve querer jogar tênis nem questioná-los sobre obras de propaganda que vivem fechadas à população.

Viva o YouTube!"


Li a "denúncia" no blog do Tas e me senti no dever de compartilhar.

Quem aqui, meu amigo, já não se sentiu um panaca por questionar o sistema?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Como assim?