terça-feira, 30 de setembro de 2008

Clarice por Rita






Acabo de trair minha melhor escritora. Assassino ela em pequenas porções de palavras que sem pensar, brotam da ponta da lapiseira.Quanta traição desta que tanto te ama. Tentar te explicar, delimitá-la na finitude das minhas idéias e sentimentos. Tornou-se tão angustiante te amar em segredo. E como já dizia Cortazar, escritor argentino, quando se põe (expõe) a escrever, mesmo o mais apaixonado dos leitores trai os escritores que leu e que amou.Antes mesmo de explicá-la e me explicar, chego à conclusão (demente?) que Clarice escreveu para mim. Não importa as décadas inevitáveis que nos separaram, sei que cada “it” esta endereçado a minha pessoa. Não me importa se tu não irás acreditar nisto, é um fato. Não brigamos com fatos. Quando li Água Viva tive a impressão que iria morrer a cada página que virava. Não conseguia respirar. Como alguém podia escrever deste jeito? Alguém me entendia.Até que enfim!No mesmo instante que entrava em êxtase por tanta riqueza, inteligência e simplicidade da sua obra, morria em mim qualquer originalidade. Porque se existe algo original, este “it” está em Clarice. Como vou conseguir escrever sem citá-la, copiá-la ou traí-la? Há algo sobre a vida que seja tão original ao ponto de reinventá-lo?Tentei citar para conhecidos alguns trechos teus. Que absurdo! Que fraqueza minha querer mostrar ao mundo a revolução das tuas palavras, compactando-as. Ao escolher uma frase, sabia que deveria citar a anterior e a antepenúltima, a que veio depois e a seguinte. Então percebi, não adianta. Teria que disponibilizar e-books completos se quisesse mostrá-la.Nunca me senti tão cúmplice de alguém e de seu mundo. Um enigma. Uma incógnita. Simples. (É o mais difícil, não?) Arrojada. Angustiada. Perturbada por uma realidade que salta aos seus olhos, aos meus olhos. Ri feliz por saber-te triste. Chora e dói, por descobrir-se alegre e realizada. [?]Uma incessante vírgula, um eterno ponto de exclamação que pergunta. Que anseia. Que espera.Quando pensastes que escrevia para o nada, estava errada. Há vários bichos-Clarices por aí. Eu sou uma deles. Pariu muitas crias enquanto olhava para si, enquanto encontrava em outros.Bem-vinda a minha vida, Clarice!Obrigada por deixar-me entrar na tua. E me perdoe pela traição, sim? Pois te perdôo por ser eu, antes mesmo de saber o que era isso.



Clarice por Rita Ellert.

30/01/07


* sempre Clarice...

3 comentários:

  1. Animal teu blog! precisa só de um tratamento visual pra ficar cmo a tua cara! mas curti! XD

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  2. acho que, no dia q comentei no seu flog pela primeira vez, esse era o texto lá, não era? :)


    ;*

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  3. É claro que eles escrevem pra gente. Eles psicografam as palavras que nossa mente não conseguiu gerar ainda. Tipo, os óvulos infecundados, por isso as palavras deles são nossas.

    Foi, vim aqui, chequei teu orkut e o fotolog. Acho que foi um negócio de auto-proteção (por causa do lance lá) e cuirosidade natural.

    A propósito, suas sobrancelhas são insurpotavelmente lindas.

    Beijas

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Como assim?